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Crítica: A Maldição da Casa Winchester

Casas amaldiçoadas são, em geral, um tema bem recorrente em filmes de terror e suspense. Não é para menos: o mistério, o escuro e os ruídos que podem ter uma residência são cenários fáceis para a construção de uma trama assustadora. A partir daí, a imaginação rola solta e abre caminhos para que fantasmas, assombrações, demônios e outras criaturas povoem nossa imaginação.


E o que esperar de uma história REAL sobre uma casa amaldiçoada? Já dá aquele frio na espinha só de imaginar? Você já ouviu falar?

A Maldição da Casa Winchester vem para mostrar que casas assombradas existem sim e são bem mais reais do que muitos pensam. Ao menos é o que dizem as lendas urbanas americanas. A mansão Winchester é considerada até hoje uma das casas mais amaldiçoadas dos Estados Unidos e a história da trama gira exatamente em torno do motivo de tanta assombração. A mansão pertencia a Sarah Winchester, viúva de William Wirt Winchester,  o criador dos rifles Winchester. Sarah recebeu uma gorda herança do finado e então mudou-se para San Jose, Califórnia, onde comprou uma casa e deu início a sua reforma\transformação. A construção se iniciou em 1884, e até a morte de Sarah Winchester, em 5 de setembro de 1922, houveram centenas de transformações e criações bizarras sem qualquer projeto arquitetônico, como labirintos, corredores, ou escadas que não terminavam em lugar algum, e centenas de quartos e cômodos bem estranhos.




Vizinhos e outras pessoas, inclusive a própria Sarah, alegavam que a casa era assombrada  pelos espíritos dos mortos pelos rifles Winchester, e até hoje o local é reconhecido por esta atmosfera sinistra. E utilizando este cenário envolto em tantos mistérios, A Maldição da Casa Winchester, dirigida pelos irmãos Spierig (Jogos Mortais: Jigsaw) chega explicando o real motivo de toda a assombração na família.




A trama se inicia quando Dr. Eric Price (Jason Clarke) é visitado por um dos acionistas da corporação Winchester que lhe faz um pedido intrigante: quer que ele avalie Sarah Winchester (Hellen Mirren) pois seu comportamento um tanto bizarro tem feito a corporação duvidar de sua saúde mental. Com relutância, Price aceita a proposta e é convidado pela própria Sarah a se hospedar na casa para fazer as sessões e analisar o que de fato está acontecendo.

Instalado na mansão, Dr. Eric começa a presenciar situações estranhas envolvendo Sarah, seu sobrinho-neto Henry (Finn Scicluna-O’Prey) e sua sobrinha Marian (Sarah Snook). A viúva diz que sente a presença constante de espíritos na casa – bons e ruins – e que são eles que constroem a mansão através de sua psicografia. Sempre que há um novo quarto desenhado pelos espíritos, Ela ordena sua construção como forma de se desculpar com eles e também fazê-los seguirem em paz… Enquanto isso, o sobrinho-neto parece sofrer de sonambulismo, acordando de madrugada e perambulando estranhamente pela casa com um saco de pano na cabeça.

Dr. Price acredita que todos os casos são decorrentes de distúrbios mentais desenvolvidos pelas perdas que a família sofreu ao longo dos anos: Sarah perde o marido e filha, e Henry o pai, de forma trágica. No entanto, as situações vão ficando cada vez mais estranhas, misteriosas e assustadoras, até  Eric se ver envolvido em uma rede que conecta seu passado aos rifles Winchester: lembranças dolorosas que vão tomando forma e criando um importante significado.

A situação fica perigosa quando Sarah resolve ajudar um espírito malévolo e sanguinário que insiste em se vingar da família Winchester. Ele usa todo seu ódio para permanecer na casa e atacar os presentes, em especial o pequeno Henry.




Mas, afinal, é bom?

Os irmãos Spierig estão construindo sua carreira através do gênero de terror, mas a verdade é que nenhum dos seus trabalhos teve de fato notoriedade, alguns inclusive, tiveram um péssimo resultado, como o último Jogos Mortais que já analisei aqui.

A Maldição da Casa Winchester pode ser considerado o melhor resultado deles até agora: uma história bem relatada, simples mas correta e honesta no seu propósito, sem exageros ou extravagâncias. Eles tiveram o cuidado de copiar exatamente tudo o que fora relatado sobre a Mansão, cada detalhe, e, a partir daí, utilizarem elementos sobrenaturais bem consistentes para explicarem tudo por trás do mistério.

É uma técnica bem inteligente a la Dan Brown: criar um universo fantasioso sobre uma situação real e bem popular. Todos o que já conhecem a lenda da Mansão Winchester assistirão ao filme e irão se deparar exatamente com o que já sabiam do caso e, como bônus, vão entrar nos alicerces da casa para descobrir seus segredos. Já os que não conheciam sua história certamente sentirão aquela pontinha de curiosidade, e se forem pesquisar mais sobre o assunto vão encontrar relatos muito fiéis à obra.




E neste universo “real-imaginário” eles constroem uma narrativa bem arquitetada sobre ilusão x realidade: os discursos repetitivos do Dr. Price sobre “o medo existir apenas em nossa mente” vão nos conduzindo a uma percepção do que realmente existe ou não na mansão.

Por vezes nos perguntamos se Sarah Winchester realmente perdeu a razão ou se Dr. Price está cego demais para entender que há algo perigoso ameaçando todos. Esta atmosfera de dúvidas nos deixa absorvidos demais na trama e nos personagens: conseguimos ter aquela empatia gostosa que nos faz sentir e torcer por eles. Grande parte deste efeito se dá pelo trabalho sempre excepcional de Helen Mirren que nos transporta a personalidade forte, sofrida e ao mesmo tempo amedrontada de Sarah, enquanto Jason Clarke nos mostra a fragilidade escancarada de um médico em decadência, dependente de drogas e afogado em seu passado trágico.

Todos amam, perdem e estão presos demais ao passado para se permitirem seguir. São estes “fantasmas” dolorosos que os deixam reféns do presente e especialmente incapazes de lutar e sobreviver. Cada um carrega seu próprio espírito preso às correntes e não há salvação enquanto o passado estiver à frente das decisões.




Parece que o grande medo dos Spiereg era que a Maldição da Casa Winchester se tornasse um drama por si só, já que a história é completamente trágica e sofrida. E, talvez por tentarem sustentar a assinatura de terror eles caíram na armadilha dos filmes de casas amaldiçoadas: sustos previsíveis demais, fantasmas de características iguais e aquele final insoso e banal. A história bem contada por si só já teria toda a carga de terror, já que assistimos a estes filmes desde sempre, e as novidades ficaram por conta de obras como Rose Red (de Stephen King), e outros derivados. O escorregão da obra foi deixar que o grande mistério fosse tão comum e igual aos tantos outros filmes do mesmo tema que existem  por aí. Foi perder uma grande oportunidade de levar o espectador ao mistério de uma história real tão lendária na cultura norte americana. Foi transformar o clássico em algo clichê.

Considerando todo o filme, a Maldição da Casa Winchester é uma obra com história e personagens cativantes mas com pouco enredo e um tanto quanto repetitiva. É um interessante filme de suspense mas sem algo especial para acrescentar.

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